sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pai é pai

Este post é candidato ao concurso “O melhor post do mundo da Limetree” 

Na primeira noite da Nina fora da minha barriga eu estava péssima. Toda recortada lá naquela cama de hospital e com uma barriga tão imensa que eu era capaz de jurar que tinha outro bebê ali. Talvez a médica, num rompante de caridade com a minha total incapacidade para ter filhos gêmeos, tivesse resolvido deixar o segundo exemplar ali guardadinho, tipo pegadinha, sabe?

Eu senti muita dor. Muita dor. Muita dor. Não podia me virar, nem me levantar e a Nina chorou, chorou, chorou. Quem você acha que ficou responsável por pegar a pequena no colo, levar pra mim, colocar no peito e blá, blá, blá? O pai claro. Pela manhã, quando ele acordou, depois da Nina ter finalmente dormido por umas três horas seguidas em cima de mim, ele olhou bem nos meus olhos e proferiu as seguintes palavras: "Foi a pior noite da minha vida."

Se eu não estivesse remendada era capaz de ter voado no pescoço dele. Como assim a pior noite??? É sua filha, tá louco? O comentário que ficou engasgado na minha garganta por alguns meses, hoje faz todo sentido pra mim.

Depois que voltamos para casa, foi engraçado observar o comportamento dele com a Nina. Ele olhava para ela e chorava de emoção, mas ao mesmo tempo deixava claro que não conseguia interagir com um bebê tão pequeno. Ele beijava, acariciava, pegava no colo, mas era como se faltasse uma conexão. E faltava mesmo. Indignada eu tentava criar, buscar argumentos, para provar que ele estava errado, mas a verdade é que ele era apenas sincero. 

Eu fiquei totalmente paralisada quando foquei os olhos na Nina pela primeira vez. Senti uma emoção única quando a peguei no colo, mas a verdade é que nos primeiros meses agia muito mais no automático e no instinto de precisar alimentar, cuidar, proteger, do que realmente baseada no amor pela criaturinha. Eu sabia que amava, mas não me sentia o ser mais iluminado da terra. Eu estava feliz, mas confusa. Eu estava feliz, mas cansada. Eu estava feliz, mas sofria. Então eu simplesmente amava, cuidava e reprimia qualquer dúvida na minha cabeça, porque era assim que as coisas tinham que ser. Será?

Agora, se mesmo para mim, a mãe, a que carregou o bebê na barriga por mais de 40 semanas, a que teve a oportunidade de amamentar a pequena (coisa que os pai, coitados, nunca vão poder experimentar), a que sentia a cria se acalmar só com o meu cheiro, se mesmo para mim era complicado entender esse vínculo, esse amor, essa cobrança, imagina para o pai? 

Hoje eu entendo que a relação entre pai e bebê se forma no dia a dia e de uma forma bem mais lenta do que a da mãe com o bebê. Nada mais normal.

As coisas foram tomando rumo com o tempo. A cada nova conquista da Nina, eles se conectavam um pouco mais. Quando ela começou mesmo a interagir, se jogar para um e outro, chamar, mesmo que com o olhar, fui percebendo ele nascer como pai. E hoje, observo a pimpolha, com todas as suas argumentações elaboradas, carregadas na dramaticidade, derrubar um marmanjo de cento e muitos quilos. Vejo ele se derreter pedindo um abraço de bom dia ou se sentir todo todo quando ela coloca um sapato e diz que vai trabalhar com o papai. Vejo como esse tempo foi necessário para construir uma relação entre os dois. 

Toda mãe passa por um intensivo quando o filho nasce. Além dos nove meses de transformações, você precisa dar conta daquele bebê de uma hora para outra. É covardia querer que os papais acompanhem esse ritmo, né? Tudo a seu tempo.



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7 comentários:

  1. Eu precisei de algumas horas. Me entregaram aquele bebezinho com a cara amassada, parecendo um joelho e eu dizia pra mim mesma: e ela. E cadê entusiasmo? Daí que, lá na maternidade mesmo, me entregaram aquele embrulhinho, todo amarradinho e ela chutou. Senti igualzinho ao chute que ela dava dentro da minha barriga. Nesse momento, foi como se uma lâmpada acendesse dentro de mim.

    É como vc diz: mãe passa por um intensivo.

    O legal disso tudo é que, no começo, todos só queriam saber da menina, mas o pai ainda tinha olhos pra mim, a mamãe carente, confusa e cansada. Só depois a relação entre os dois se formou.

    Tudo sempre se encaixa. :)

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  2. Que lindo Alice!
    Eu compartilho dessa visão com você: o amor é construído. Tanto pra mãe quanto pro pai, só pra eles demora mais um pouquinho...
    Vou me lembrar desse post a próxima vez que eu ficar p*ta com o André porque ele não está dando a mínima pro bb na barriga. (Porque com o Rapha, é tanto amor dos dois lados que às vezes quem sobra ali sou eu!).
    Bjos

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  3. Eu sempre pensei que com os pais deveria ser um pouco mais lento o processo. Afinal, eles não sentem na barriga o bebê e tudo isso.

    Mas mesmo assim deve ser meio assustador (pros dois) ir dormir num dia com um barrigão e acordar no outro com um bebêzinho que chora e demanda atenção integral. Acho que talvez no passado fosse diferente. Hoje temos uma cabeça diferente, acho que muitos de nós somos tão individualistas (e eu me incluo nesse bolo) que estar preparado para esse momento é fundamental.

    E tantos casais ainda usam daquela hipocrisia de que o bebê é ótimo, quase não chora, dorme à noite toda, não dá trabalho nenhum... (como se chorar fosse um demérito, um defeito do bebê!!) Eu escuto tanto isso que quando tive uma amiga sincera o suficiente pra dizer que não dormia por noites e noites ela sentia-se mil vezes pior, pq pensava "pq nossos amigos tem um filho mais calmo que o meu? O que fiz de errado?". Chato...

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  4. Nossa...esse texto deveria ser distribuído junto com a certidão de nascimento......parece que vc escreveu a minha historia e a do meu marido......somos todos assim?? Suoer me identifiquei e realmente hoje o Theo interage muito mais e esse papel de pai esta aflorando.....bjus

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  5. Que texto lindo, Alice!
    Não compreendo ainda a intensidade de suas palavras porque ainda não sou mãe, mas tentarei lembrar dele no dia que for.

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  6. eu tb acho que com os pais é diferente essa conexao com o bebê..se sentir pai e talz.. leva um tempo pra ficha cair para os homens rs

    mas sobre a mae eu ja acho estranho na minha visao ..pq antes mesmo do bebê ta dentro da minha barriga ja amava ele muito..era coisa que mais queria no mundo *-* quando estavamos planejando ja sonhava com o bebê nos meus bracos..ja me sentia mae..to com 28 semanas e parece uma eternidade essa espera.. pra conhecer meu bebê..
    mas eu sou sentimental..
    entendo o ponto de vista claro..cada um é de um jeito neh..mas pra mim foi estranho ler o texto e nao achar estranho pro meu mundo ..rs

    que foto linda deles dois.. :)
    beijao

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  7. Incrível como as histórias se repetem, rs! e eu me vejo nas suas... Já tem meu voto!!

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